Ossos do ofício
A veterinária tem algumas dificuldades semelhantes à medicina. Cuidamos dos nossos pacientes com amor, carinho e dedicação, mas é importante estabelecer limites emocionais. Lidamos com muitos animais doentes. Inevitavelmente, algumas perdas. Esse foi um dos pontos que me fez acabar desistindo da profissão. Ficava ansiosíssima com os tratamentos que prescrevia. Uma vez, chorei por um final de semana inteirinho após a perda de um paciente.
Não é o caso da Isabella. Ela é uma veterinária que lida com seus pacientes com a mesma dose de amor e profissionalismo. Isso é essencial para não se apegar aos pacientes e querer levar todos embora para casa. Mas o que acontece quando é o cachorro que se apaixona pela veterinária?
Encontro inesperado
Isabella decidiu que queria um cachorro poucos meses depois de começar a morar sozinha. Ela estava longe da sua cidade natal, fazendo residência médica, e sentia falta da companhia canina que sempre teve na casa dos pais.
Tudo aconteceu de forma programada e muito bem organizada. Isabella foi preparando o enxoval antes mesmo do cachorro chegar. Comprou caminha, brinquedos, até escova de dentes. Escolheu um Schnauzer, que se encaixaria perfeitamente ao pequeno apartamento que alugava. Pesquisou um bocado até achar um canil de confiança. Havia uma ninhada prevista para dezembro. Escolha feita. Antes do Natal Isabella teria um novo cachorro em sua vida.
Na última semana de novembro, Isabella pagou o sinal pelo Schnauzer e foi trabalhar, feliz da vida. Chegou no plantão, foi olhar os pacientes internados... e deu de cara com uma filhotinha branca de enormes olhos azuis. Era a Pérola, uma American Bully de quase três meses de idade, em estado grave devido a uma doença que acomete filhotes e pode até levar à morte.
Isabella se aproximou da baia e conversou com a filhotinha. Pérola se levantou, abanou o rabinho e veio até a Isa. A outra veterinária que estava na clínica se espantou: “É a primeira vez que ela levanta desde que chegou. Não quis interagir com ninguém, só ficava deitada”. Ainda contou para Isabella que o criador não iria mais coloca-la à venda. “Se alguém se interessar, é só pagar a conta do hospital”.
A troca
O coração de Isa balançou, mas ela logo bloqueou os sentimentos. A reserva do Schnauzer já estava feita, nada mais importava. Varreu para longe aquela sensação que invadiu seu peito e seguiu com o plantão. Só que ainda tinha doze horas consecutivas daquela coisinha branca e fofa pela frente.
Isa passou a noite toda em função da Pérola. A filhote interagia quando ela chegava perto, e chorava quando ia embora. Abanava o rabinho e pedia contato. E as batidas do coração de Isa foram ficando cada vez mais descompassadas. Ela precisava se aconselhar com alguém. Mandou mensagem pra mãe e recebeu o recado: “Filha, fica com ela”.
Sabe quando você não pega o guarda-chuva que a mãe falou pra pegar, e no final do dia acaba com o corpo e a dignidade encharcados? Isa soube na mesma hora que criaria um problema se não adotasse aquela cachorra. Assim que saiu do plantão, mandou mensagem para o canil do Schnauzer. Inventou uma história, armou um drama e implorou pelo estorno. Deu certo. O dinheiro pagou a conta do hospital e Pérola sarou. Ganhou um novo lar e um novo nome: Phoebe.
Primeiro Natal
Lembra do enxoval que a Isa preparou com todo carinho? Para um Schnauzer que tem metade do tamanho de um American Bully? Pois é.
Isa sempre tem dificuldades em escolher presentes para si mesma. Mas, naquele ano, quando sua família perguntou o que ela queria de Natal, não houve a menor dúvida. Isa pediu uma caminha para a Phoebe, já pensando que a atual não duraria mais do que algumas semanas. Só que ela quis tanto agradar a nova filha de quatro patas que exagerou um pouco ao calcular o tamanho.
No dia de Natal, sua avó apareceu com uma cama gigantesca, que quase ocupava metade do quarto de Isa. Ainda hoje, três anos depois, Phoebe continua amando sua cama king size, que comporta a Isa, todos seus brinquedos e ainda sobre espaço.
Phoebe foi a sensação daquele Natal, conquistando a família inteirinha de Isa. Ela tirou foto com todo mundo, participou do amigo secreto (estraçalhando os papeis de presente) e arrasou no look com um modelito joaninha.
Vida da Phoebe
Phoebe é simpática, feliz, só pode comer ração hipoalergênica (o que pesa três vezes mais para o bolso da Isa) e adora brincar de cabo de guerra. Ama interagir com outros cães e frequenta a creche desde criança, onde se esbalda no pega-pega, na piscina e, para o desespero da Isa, na terra.
Outro ponto alto da rotina é visitar a casa do vovô e da vovó. Ela é apaixonada pelos pais de Isa, e eles são apaixonados por ela. Melhor ainda se a visita for no dia que o lixeiro passa na rua. Toda terça, quinta e sábado é Natal para Phoebe: ela começa a latir, chamando todo mundo da casa, e sai correndo para a garagem. É um evento familiar, como se o caminhão do Papai Noel estivesse se aproximando. O pai de Isa fica particularmente feliz com esse acontecimento, pedindo para o lixeiro buzinar para sua neta de quatro patas.
Não imagino minha vida sem ela. É o cachorro mais amoroso que eu já tive. Tudo o que eu faço é com ela: vai nas lojas comigo, sai pra comer comigo. Ela é muito especial, sabe quando estou triste e vem me agradar.. Conheço cada olhar dela e sei tudo que ela me pede. Ela veio para me salvar. Em muitos momentos nesses três anos, ela realmente me salvou de muita coisa.
Dica do vet
Fogos de artifício - patrocinado por Kahoun
Quem dera se os pets pudessem ficar desse jeitinho, todos zen, na hora da virada do ano. A Medicina Veterinária ainda não pode ensinar cães e gatos a meditarem como um monge budista, mas temos alguns truques que podem ser bem eficazes na hora de amenizar o pânico dos fogos de artifício.
Essa parte você já sabe, mas vale ressaltar: fique com seu pet na hora da virada, preferencialmente no ambiente mais tranquilo e silencioso da casa, distraindo com petiscos e brinquedos. Para os casos graves, de muito pânico e ansiedade, considerar aulas de adestramento e desensibilização é a melhor coisa que você pode fazer para o seu pet durante o ano que vem. Uma consulta com o veterinário também é legal, que pode prescrever tranquilizantes.
“Mas tem alguma coisa que eu possa fazer para agora?” Tem sim. Essas três dicas são fáceis de serem aplicadas e podem te ajudar já no próximo domingo:
Tellington Touch
Esse nome esquisito nada mais é do que um método que estimula a saúde e o bem-estar através de movimentos e consciência corporal nos animais. Uma das técnicas é a amarração, que faz com que o pet se sinta abraçado e seguro em momentos estressantes. Vale testar a técnica antes do momento da virada, para checar se seu cão se sente confortável com a faixa. Esse vídeo ensina a fazer a técnica de forma bem ditática.
Feromônios
O Adaptil é uma substância sintética que simula o feromônio transmitido da mãe para os filhotes, dando uma sensação de calma e tranquilidade para os cães. O difusor é ideal para tornar o ambiente mais acolhedor em momentos estressantes. O ideal é coloca-lo na tomada em uso constante, alguns dias antes da virada.
Fones de ouvido
Existem várias opções de abafadores e fone de ouvido na internet. Os relatos dos tutores são muito positivos, e a maioria dos cachorros se adapta super bem.
Até semana ano que vem
Próxima edição conta uma história da autora que vos escreve. Curtinha e bem pessoal, para começar o ano com calma e com os meus votos para 2024. Até lá, desejo que você aproveite o final do ano e se divirta muito com a família e os amigos. Ano que vem tem mais!
Última do ano com estilo. Alguém sabe onde eu compro ingresso pra festa de réveillon desse DJ? 🎉
Boa virada!
A Phoebe é a doguinha mais estilosa desse blog kkkkkkk sempre nos divertimos com as fotos que recebemos dela e sabemos que, realmente, ela é um anjo na vida da Isa
Adorei a Phoebe!