Mania de filhotes
Ah, os filhotes. Pequenas bolinhas de pelos cheias de fofura e energia prontas para destruir sua casa e todos os pertences que nela habitam. Você já parou para pensar por que os filhotes criam esse hábito destruidor? Será que eles já nascem assim ou é um comportamento adquirido?
A segunda edição da Pet Letters sobre comportamento animal é dedicada a esse tema. Você vai conhecer o Calvin, o filhote mais terrível do mundo; e vai conferir as dicas da Laura Porto, veterinária especialista em comportamento animal, sobre como lidar com o comportamento destruidor dos filhotes. Vem que está imperdível.
Qual o nome dele?
Calvin era um filhotinho de 44 dias quando chegou na casa de Paulo. Só que ele ainda não sabia que se chamaria Calvin. Na verdade, quase uma semana se passou até que o filhote-sem-nome fosse batizado.
Paulo não conseguia pensar em nada que fosse a cara dele. Cogitou Bento, Banditi, Gepeto... nada parecia certo. Um dia, a família estava reunida na sala quando a irmã de Paulo sacou uma lista de nomes. Quando chegou em Calvin, todo mundo parou e se olhou. Era isso.
O nome acabou sendo uma homenagem às tirinhas de Calvin e Haroldo. Agora, Paulo tem o sonho de ter um gato Bengal laranja para reunir a segunda metade dessa dupla.
Furacão
Enquanto novinho, Calvin era um verdadeiro terrorista. “Ah, filhotes são sempre mais arteiros”, você pode pensar. É verdade, concordo com você. Mas preciso confessar que, enquanto conversava com o Paulo, cheguei a pensar que o Calvin merecia algum tipo de reconhecimento. Ele seria um ótimo candidato ao recorde de “Mais Artes Aprontadas em Menos Tempo” no Guiness Book dos cães.
Tudo aconteceu no intervalo de uma semana. Depois de sofrer um roubo de comida, os pais do Paulo foram obrigados a providenciar uma tranca especial para a porta da geladeira, pensando ingenuamente que o problema com o meliante estaria resolvido. Mas Calvin deu um jeito de destruir a tranca, abriu a geladeira e comeu uma barra de manteiga de 200g. Dias depois, o filhote decidiu mastigar os óculos de grau da mãe do Paulo. E para fechar com chave de ouro, Calvin cismou com os sensores de ré do carro, fazendo uma bela e minuciosa obra de arte: arrancou um por um, deixando o parachoque intacto. Ufa!
Depois de toda essa experiência, a família colocou na balança as aulas de adestramento e os passeadores. E valeu a pena. Calvin foi educado, amadureceu e hoje é um cão super comportado e obediente. Um filho exemplar.
BFFs
Calvin ama passear onde tem grama e espaços abertos. Fica alucinado quando encontra uma mangueira – só pensa em brincar com a água. E também é doido por qualquer pedacinho de coco. Ele é “mais na dele” e não liga muito para outras companhias caninas, mas adora socializar com os humanos e com seu amigo Johnny, a tartaruga.
Enquanto filhote, a ideia de brincadeira de Calvin era pentelhar a tartaruga, empurrando-a de um lado para o outro. Quando Johnny se refugiava dentro do casco, Calvin continuava perturbando o coitado, enfiando o focinho lá dentro. Literalmente metendo o nariz onde não era chamado. Felizmente, o crescimento de Calvin fortaleceu essa amizade, e os dois se tornaram grandes companheiros.
Prova disso é quando a tartaruga se empolga desbravando o quintal e acaba virando de
barrigacasco para cima. Calvin usa um latido especial só para essas situações, avisando os donos da casa que Johnny está de ponta cabeça e precisa ser ajudado. Os dois são muito amigos e fazem tudo junto. Seguem um ao outro por todos os cantos, tomam banho de chuva e descansam lado a lado.
Na hora da comida, no entanto, precisam ser separados. A tartaruga leva trinta minutos para comer uma refeição que o Blue Heeler come em três lambidas. Se bobear, Calvin rouba toda a comida do Johnny em um piscar de olhos, deixando a tartaruga atônita, sem nem entender onde foi parar seu almoço.
O Calvin é um cachorro energizante, que consegue energizar as outras pessoas. Hoje ele é mais controlado, mas ele ainda tem um mini caos dentro dele, um agito. Ele agita os ambientes. Todo mundo que o conhece adora. É um filho mesmo… e a razão dos boletos pra pagar.
Conversa com uma especialista
Comportamento animal
Conversei com a médica veterinária Laura Porto, especialista em comportamento animal, e fiz essas três perguntas sobre filhotes para ela:
Por que os filhotes têm esse “comportamento destruidor”? É normal ou alguns filhotes podem ser mais destruidores do que outros?
É normal. O comportamento de um cão é mesmo de destruir. Eles têm o padrão de caça: de ir atrás, observar, pegar, destruir e, dependendo, ingerir. No começo da vida eles estão aprendendo, e aprendem tudo com a boca.
Dependendo da raça, um filhote pode sim ser mais destrutivo do que outros. O Blue Heeler, por exemplo, que é uma raça do grupo de pastoreio, tem muito mais intensidade em mordiscar as coisas. Já o Teckel (salsichinha) gosta mesmo é de cavucar.Normalmente esse comportamento é exacerbado porque o ambiente está empobrecido. É um comportamento normal, mas precisamos direcioná-lo para as coisas certas.
O que os tutores podem fazer para evitar problemas?
Enriquecer o ambiente, tanto ambiental quanto social. A gente acorda de manhã, toma café correndo, trabalha o dia todo, volta pra casa exausto e não tem disposição para brincar com o cão. Tem que dedicar tempo para esse filhote, todos os dias. Esse é o principal período para a socialização, até a 16ª semana de vida, em que ele aprende tudo com mais intensidade.
O cão precisa ter brinquedos rotacionados para variar, se não ele fica entediado e busca outra coisa mais interessante para fazer. Precisa de pelúcias para destrinchar (sim, ele vai destruir) e de mordedores certos para roer. Precisa socializar com outros cães, conhecer pessoas e como o mundo funciona. Ter contato com coisas diferentes, ser educado e saber como agir. Também é interessante que o cão trabalhe para ganhar o alimento, dessa forma ele se diverte e exercita muito mais a mente. Comer o alimento direto no prato é uma característica humana - os cães funcionam de um jeito diferente.
Assim, de noite, depois de um dia adequado e cheio de estímulos que atenderam suas necessidades básicas, ele não vai ter tempo nem energia para destruir suas coisas.
Quando se deve chamar um especialista em comportamento animal?
O ideal mesmo é até antes da compra ou adoção do filhote. Um especialista em comportamento sabe te dizer qual tipo de animal é adequado para o seu estilo de vida. Se deve ser um cão mais ativo, pacato, sociável ou não, grande, pequeno, se precisa de um ambiente mais quente ou frio…
Também tem o preparo ambiental para receber o filhote: ele vai precisar de um espaço restrito com liberação gradual, educação para não ficar chorando o tempo todo e para aprender a fazer as necessidades no local certo. Sempre ensinando, supervisionando, para ele não ficar ao “Deus dará.” Temos que conduzir o filhote para o acerto, não para o erro. Fazer esse preparo desde cedo garante que o sucesso seja muito maior.
Até semana que vem
Alerta de fofura. A primeira edição de pets exóticos na Pet Letters estreia na forma de duas orelhas e um rabo fofinho. A próxima edição conta a história das coelhas Sofia e Gigi e traz várias curiosidades sobre os seres mais orelhudos desse universo. 🐰
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Agora você já sabe. O vídeo de encerramento de hoje é desse filhote mordedor, que parece incorrigível mas só falta enriquecimento ambiental 😊
Te vejo na próxima edição!
Fofinho! Uma amizade entre um cão e uma tartaruga é inusitado 🤣 adorei!