As quartas usamos rosa
E durante todo esse mês também. Essa edição contém informações sobre outubro rosa pet, referências ao filme Meninas Malvadas e a história real de uma husky siberiana cheia de personalidade. A newsletter #46 está no ar.
História Real
Proibido circular com animais
Começou quando a Margarete caiu doente. Ela não sabia muito bem o que tinha, já que nenhum médico do final da década de oitenta conseguiu fechar o diagnóstico. Parecia ser um tipo de pneumonia que simplesmente não passava. Febre, febre, febre, dias a fio. O padre foi chamado para dar a extrema unção. Porém, antes que ele chegasse, Ronaldo agachou ao lado da esposa, pálida e prostrada, e sussurrou como uma brisa em seu ouvido: “Se você melhorar te dou um cachorro”.
Foi a típica barganha impulsiva que fazemos com o universo quando nos sentimos presos em um beco sem saída. Isso porque Ronaldo tinha medo de cachorro - medo mesmo, do tipo que atravessa para o outro lado da rua - o que impedia a esposa de realizar esse sonho. Felizmente aquelas palavras foram ouvidas diretamente pelas células imunes da Margarete, que foi magicamente curada uma semana depois. A promessa foi cumprida e ela matou a vontade com gosto, escolhendo um cachorro bem apropriado para o seu apartamento em Pinheiros: um husky siberiano.
Apenas um dos quatro filhotes do canil se interessou pelo casal. Petróvina foi direto no Ronaldo, como se já soubesse quem precisava conquistar. Chegou com pouco mais de dois meses, um olho azul e outro castanho. Entendeu no primeiro dia onde ficava a área de serviço e a função do jornal espalhado pelo chão. O casal ficou de boca aberta com tanta inteligência. “Vai ser moleza”, chegaram a pensar. Mas Petróvina foi crescendo e a matilha começou a ser formada.
Husky siberiano é um bicho diferente. Um tanto lobo, um pouco gato, bastante cachorro e meio raposa. Petróvina era esnobe, sedutora e de personalidade forte o suficiente para se empossar como líder da matilha. Vivia desafiando o Ronaldo, mas no fundo o adorava. Todo dia de manhã metia o focinho na altura do seu rosto até ele finalmente abrir os olhos, quando pulava em cima da cama. Margarete nem tentava ganhar o seu respeito - sabia que era vista como uma bolinha de brinquedo e nem se importava. A husky tinha muita energia e tudo era festa.
Conhecendo sua energia, Margarete saía com frequência do apartamento para passear com Petróvina. No final da rua ficavam os enormes jardins da Faculdade de Medicina, o lugar preferido das duas. A husky era bem treinada para andar na guia e sempre se comportava durante a caminhada. Justamente por isso, Margarete foi inocente o suficiente para acreditar que a Petróvina havia conquistado o direito de dar uma voltinha independente e despretensiosa pelo lugar.
Era domingo de manhã e o jardim estava vazio. Assim que soltou a guia, Petróvina disparou pelo gramado. Margarete saiu atrás da cachorra, um ponto peludo cinza e branco voando dentro das grades da faculdade, sentindo o arrependimento gelar as suas entranhas ao focalizar o lago artificial de carpas que jazia entre as árvores.
Petróvina se atirou nas águas com o ânimo de um urso caçando salmão no Alaska. Ela abocanhava os peixes e os jogava para fora do lago ao mesmo tempo em que um segurança alucinado intimava Margarete a resolver a situação. Foi quase impossível arrancar a cachorra da água. Mais difícil ainda foi descer a Teodoro Sampaio pingando lama, subir o elevador do prédio e dar banho na husky no box do apartamento.
Coincidentemente, alguns dias depois Margarete passou pela Faculdade de Medicina e deu de cara com o portão fechado, ornamentado com uma placa em letras garrafais: proibido circular com animais.
Petróvina tem tantas histórias que não foi nada simples escolher somente uma para destacar nessa edição. A husky já espalhou um saco de farinha pela casa, arrancou metade do carpete da sala, derrubou a árvore de Natal, ganhou medalha em uma exposição de cães (sendo que nem estava inscrita na competição) e já foi sequestrada quatro vezes. Quatro. Vezes. Em uma delas, Margarete invadiu um desmanche de carros e teve um confronto direto com o bandido. A Petróvina merece uma segunda aparição na Pet Letters sim ou com certeza?
“Um husky não é um cachorro. Ele é uma aventura. E uma aventura maravilhosa de se viver.”
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Dica do Vet
Outubro rosa
Quando terminei a faculdade me especializei em reprodução animal. Isso significa que além de assistir partos e segurar filhotes recém nascidos (melhor parte), lidava com patologias oncológicas do sistema reprodutor (pior parte).
Vou te contar uma coisa que você não deve saber. A cachorra não funciona como nós, mulheres, que se preparam todo mês para receber o espermatozoide. Ela só cicla duas vezes por ano, e pouco importa se chega, de fato, a engravidar ou não. As concentrações hormonais são praticamente as mesmas, o que faz a pobre da cachorra pensar que está grávida a cada seis meses.
Esse esquema serve perfeitamente bem na dinâmica social da alcateia, mas pode dar um monte (mesmo) de problemas para a sua amiga peluda que acabou de sair do pet shop com lacinho na testa e perfume de morango. A solução você já sabe, né?
Tem que castrar. E castrando antes do segundo cio, você ainda leva de lambuja cerca de 80% de proteção contra tumores de mama. Olha só que beleza!
Mas é castrar mesmo, viu? Vade-retro com as tais vacinas anticoncepcionais, que são mais enganosas que o seu cachorro fingindo que não roeu o cabo do carregador.
De resto, prevenir é sempre o melhor remédio. Quer sua cachorra seja castrada ou não, é muito legal criar o hábito de fazer o exame de toque nas mamas. Isso vale para as gatas também - apesar desse tipo de tumor ser menos comum para elas, é mais letal. Essa veterinária explica direitinho como fazer.
Pet Letters Indica
Produtos para usar rosa de quarta
Como não quero cair no burn book da Regina George, separei uma curadoria dos melhores produtos rosa que encontrei na internet. 🎀
Essa capa de chuva para cães que é um barro.
Comedouro lento para se alimentar antes de competir com os matletas.
Coleira para cachorros e para gatos arrasarem no baile da primavera.
Futon para descansar depois de dançar Jingle Bell Rock.
Bandana para conquistar o Aaron Samuels.
📽️Vídeo da edição
Chama o samu. Esse husky já escolheu a fantasia pras festas de Halloween. 🚨
Até a próxima!
Pet Letters é a newsletter de histórias de amor entre tutores e pets, com dicas veterinárias e curiosidades do mundo animal.
Quinzenalmente, nas quartas-feiras às 9h.
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Escrita por Marina Cyrino Leonel
Médica veterinária que trocou os atendimentos pelas palavras
Queremos Petrovina partes 2, 3 e 4 😸
Acho que a Petrovina merece uma newsletter (ou um livro, maybe?) só pra ela! kkkkkkk