História de veterinária
Preciso dizer o quão especial pra mim foi receber mais uma vet aqui na Pet Letters? Escrever essa edição me deixou emocionada, e eu espero que ela toque seu coração também. Leia até o final - tenho certeza que a história de hoje vai te surpreender.
História Real
A verdade sobre a veterinária
Elidia tem certeza que tem o melhor trabalho do mundo: “não é qualquer um que pode se emocionar, fazer um carinho, receber uma lambida, um olhar carinhoso. Isso é muito mágico”. É mesmo. Até a pessoa mais sem coração do mundo é capaz de apostar que trabalhar com animais é, de fato, uma delícia.
Esse foi o motivo pelo qual ela mergulhou de cabeça na profissão. Elidia se apaixonou por endocrinologia ainda na faculdade, mas foi na residência que a neurologia a encontrou. Essa especialidade, ainda pouco explorada na veterinária, a limitava a nadar no raso perante os casos neurológicos que chegavam ao hospital. Foi à pós-graduação em busca de águas mais profundas, e não parou mais. Hoje, ela é coordenadora clínica de um hospital em São Paulo, faz doutorado, é secretária da Associação Brasileira de Neurologia, tesoureira da Associação Brasileira de Endocrinologia e atende como neurologista em diversos hospitais (depois conta pros leitores quantas horas tem seu dia, tá?).


Todas essas conquistas, no entanto, envolveram muito mais do que só o amor por cães e gatos. Isso porque a medicina veterinária carrega uma particularidade óbvia, mas que quase ninguém lembra. É uma característica que passa batida durante a faculdade e se escancara quando se chega à linha de frente do atendimento: os animais não vêm sozinhos. Por isso, quando perguntei para Elidia qual era a parte que mais gostava do seu trabalho, me emocionei ao ouvir sua resposta: “Pessoas. Entrei na vet porque gostava muito de animais, e ainda bem que desenvolvi o gostar de pessoas”. São muitas as pessoas que ela carrega no coração. Os tutores do Bernardo, são duas delas.
O casal de senhores chegou no consultório preocupados com seu pinscher. O cão de 13 anos era enérgico e teimoso, como todo pinscher deve ser, mas estava ficando esquecido e se perdendo com frequência dentro de casa. O diagnóstico não demorou para ser fechado: síndrome cognitiva, o equivalente às doenças demenciais da velhice dos cães. Sem cura.
Os cinco anos de graduação te preparam para lidar desde fraturas expostas até envenenamento, mas não ensinam ninguém a dar uma notícia difícil para o tutor. É duro. Difícil. Dolorido. Mas Elidia aprendeu que é pela rachadura que entra luz. Ela não podia oferecer a cura para o Bernardo, mas era capaz de proporcionar alívio e conforto para o paciente e sua família: “A partir de agora, começamos a andar de mãos dadas até o final, seja ele qual for”.
Foram quatro anos de tratamento. Durante as consultas, conversavam sobre medicamentos, controle da dor, cuidados paliativos e escolhas difíceis que precisariam ser tomadas quando o fim se aproximasse. Mas também falavam do cotidiano, filhos, netos, Bernardo, a vida que corria em todos os sentidos: começos, meios e fins.
O dia em que Bernardo se despediu foi triste e leve na mesma medida. Os tutores voltaram ao hospital no dia seguinte – enlutados e de sorriso nos lábios - para agradecer a veterinária pelos anos de cuidado. Naquele momento, Elidia sentiu o vazio das saudades. Acreditou que perderia o contato com aquela família. Mas pouco tempo se passou até que os tutores a procurassem para bater papo. Depois, para tomar um café. E, mais tarde, para outro.
Coincidentemente (ou não), na mesma semana em que Elidia me contou a sua história, ela recebeu essa foto aí debaixo dos tutores do Bernardo. Três anos após a partida do pinscher, a família volta a aumentar. O ciclo continua. Para mim, essa história traduz a essência da profissão que pede vínculos, conexões e vulnerabilidade; uma profissão que carrega a palavra “medicina” antes da “veterinária”. Essa é a arte de cuidar - dos animais e de quem cuida deles.
“São histórias que fazem a gente ver que o nosso trabalho faz a diferença, independente se é uma doença que a gente pode curar ou não, e de como as pessoas importam. Essas famílias multiespécies, mudam a nossa vida. A gente cria uma conexão muito boa com as famílias, e isso é mágico na medicina”.
Dica da Vet
Com a palavra, M.V. Elidia Zotelli
Até limpei a casa e passei um cafezinho - não é todo dia que recebemos uma neurologista na Pet Letters. Por isso, é com muito prazer que entrego as dicas veterinárias de hoje nas mãos da Elidia. E tem mais: você também pode acompanhá-la no Instagram e na newsletter Neuroscience.vet. Se quiser agendar uma consulta, é só clicar aqui.
Por que meu cão está tendo convulsões?
As convulsões em cães podem acontecer por diferentes motivos, e entender as causas é essencial para garantir o melhor cuidado ao seu pet. Confira as principais categorias:
Idiopática: É a epilepsia sem uma causa identificável, mas que pode ter origem genética. É o tipo mais comum, especialmente em raças como Labrador, Golden Retriever e Border Collie.
Estrutural: Resulta de alterações estruturais no cérebro, como malformações congênitas (comum em raças como Chihuahua e Pug), inflamações, infecções, AVCs e tumores cerebrais.
Reativa: Ocorre devido a distúrbios metabólicos ou exposição a toxinas que afetam o cérebro, como hipoglicemia, doenças hepáticas, renais ou intoxicações. No caso de intoxicações, as principais fontes incluem:
Medicamentos - ansiolíticos, anfetaminas, paracetamol, ibuprofeno.
Drogas ilícitas - maconha ou cocaína, muitas vezes ingeridas acidentalmente.
Plantas tóxicas - lírio, azaleia, comigo-ninguém-pode.
Alimentos proibidos - chocolate, xilitol (adoçante), uvas e passas.
Metais - chumbo de tintas ou mercúrio presente em alimentos contaminados.
Pesticidas - ingestão ou contato com venenos para ratos ou inseticidas.
Compostos de origem animal - veneno de sapos (como o sapo-cururu) ou cobras.
Gases tóxicos - monóxido de carbono ou fumaça de incêndios.
Alcoóis - anticongelantes, produtos de limpeza ou bebidas alcoólicas.
Se você suspeitar de uma intoxicação ou se o seu cão apresentar uma crise convulsiva, procure atendimento veterinário imediatamente. Esses casos são considerados emergências e o tempo é essencial para salvar a vida do seu pet.
Pet Letters Indica
Animações indicadas ao Oscar - parte 2
Procurando um programa para o final de semana? Não diga mais nada: Flow é a animação letã vencedora do Globo de Ouro de 2025 que acaba de chegar nos cinemas do Brasil. O desenho disputa o Oscar nas categorias de melhor animação e filme estrangeiro, sendo um concorrente direto do nosso “Ainda Estou Aqui”.
A história segue a jornada de um gato que é forçado a deixar seu lar após uma grande inundação. Ao contrário da animação que indiquei na edição anterior, aqui não tem essa de animal antropomórfico, não. O que chamou minha atenção foi, justamente, as representações impecáveis dos movimentos, hábitos e gestos dos animais. Se trata de um filme naturalista, feito a partir de muita observação e estudo do mundo real (repare bem no reflexo da água e nas pupilas dilatando no gyphi ali em cima).
O filme prende atenção do começo até a cena pós-crédito, mesmo sem ter nenhum diálogo. Mas se esperar um grand finale, vai se decepcionar - o desfecho é aberto para livre interpretação. É uma animação bem diferente das que costumo assistir (alô, filhos de Walt Disney), mas que pude apreciar pelo que verdadeiramente é: uma poesia sobre amizade, mudanças e confiança no (incontrolável) fluxo da vida.
📽️Vídeo da edição
É assim que os veterinários tratam o seu pet depois que você vira as costas. 🤫
Mais do Substack
Eu e a
estamos obcecadas. Passamos 80% do tempo falando sobre o Oscar e nos outros 20% torcemos para alguém falar sobre para podermos falar mais.Uma edição sobre RAIVA (em caixa alta mesmo) da
, a mestre em transformar emoções pouco nobres em palavras.Praticar a escrita em inglês através de cartas. A
publicou uma edição de Valentine’s Day sobre esse assunto que ficou apaixonante.
Já conhece minha outra casa aqui no Substack? A Marinando está com um formato diferente: agora, além das crônicas sobre a beleza do cotidiano, também estou compartilhando os filmes, séries e coisas legais que consumi nos últimos quinze dias. Só dica fina, refinada e elegante. Ah! E também deixei um spoiler *pausa para suspense* DA CAPA DO MEU PRIMEIRO LIVRO! 🥰🤩
Até a próxima!
Pet Letters é a newsletter de histórias de amor entre tutores e pets, dicas veterinárias e curiosidades do mundo animal.
Quinzenalmente, nas quartas-feiras às 9h.
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Escrita por Marina Cyrino Leonel
Médica veterinária que trocou os atendimentos pelas palavras
Ficou lindo Marina ❤️
Me emocionei dinovo, esse sentimento é de mta gratidão 🙏
Que lindo, Má. Feliz por ela, pelos tutores com seu novo cãozinho, mas preciso contar que o Rafael me disse outro que, se tivesse um Pinscher, o nome dele seria Lúcifer. Hahahaha!