Aviso de férias
A partir da semana que vem vou tirar alguns dias para ficar assim, de boa, só balançando na rede. Minhas newsletters também entram em recesso e voltam em breve: a Marinando no dia 25/08 e a Pet Letters dia 28/08. 😊
Mas vamos em frente que antes tem história bonita para contar. Spoiler: chorei escrevendo. Me conta nos comentários se eu te emocionar também.
História Real
Herança paterna
Era um domingo à tarde. Estava andando no shopping quando surgiu um Golden Retriever desfilando entre a Hering e a Kopenhagen. Meu pai atravessou o corredor, sorrindo de orelha a orelha, e o cachorro sorriu de volta. Ele sentou e mostrou a língua enquanto meu pai acariciava sua juba dourada, alheio ao olhar impaciente do dono e ao embaraço da minha mãe, que se desculpava.
Ele não consegue evitar. Meu pai é operado por uma força que o faz interagir com todo e qualquer animal que cruza o seu caminho, provavelmente por culpa dos meus avós. Eles foram os principais responsáveis por providenciar, além do nome inusitado do meu pai – Neygmar – os milhares de animais de estimação que passaram pela casa Cyrino entre as décadas de 60 e 90.
Os primeiros foram os vira-latas Lorde e Sultão, que pulavam o portão de madeira cuidadosamente construído pelo meu ingênuo avô para roubar linguiça na mercearia da esquina. Em seguida foi a vez da Gimba, a Collie, que passava por um revezamento para ter os longos pelos escovados todos os dias por um dos quatro irmãos. Tinha uma vida de rainha, mas matou a família de vergonha interrompendo o desfile de 7 de setembro da escola para fazer xixi.
E os gatos? Uma bela coleção formada graças à curadoria da minha tia, que com toda destreza dos seus dez anos soube conquistar pela boca os exemplares que brotavam no muro da casa: Nhonhô, Peter, Piteco, Pitequinho, Buja, Nicota, Nicotinha e Mileide – peluda, colorida, que dormia na cabeça do meu pai. Felinos que chegavam, ficavam e se multiplicavam. De repente eram quize gatos, quatro filhos e minha avó perdendo a cabeça. Todos deram no pé com a chegada do Apache, o Pastor Alemão.
O filhote tinha orelhas de morcego, uma pinta preta na língua e patonas enormes que revelavam o que estava por vir. Chegou tomando conta da casa e do coração do meu pai. Ele tinha 19 anos e o primeiro grande amor de sua vida.
Apache tomou tamanha dimensão que antes mesmo de completar um ano as pessoas já atravessavam a rua para não passar na frente da casa. Ele assustava todo mundo, inclusive os dois bandidos que entraram no quintal às 23:30h de uma quarta-feira de verão. No dia seguinte só restava a marca barrenta de pé no muro para contar história.
Mas apesar do tamanho gigantesco, o lugar do Apache era dentro de casa. Ele guardava sua verdadeira personalidade para as pessoas que passavam da porta para dentro: divertida e extremamente bondosa. Ele ficava deitado na poltrona da sala, que era só sua, e babava pela cozinha toda vez que minha vó abria um coco. Com os quatro irmãos, então, tudo era festa. O cachorro era colocado no quarto para “bater cara”, enquanto eles se encarregavam de esconder uma bolinha de meia nos lugares mais inusitados: dentro do armário, embaixo da camisa e até em cima do lustre. Apache não descansava até encontrar a bolinha. E ele nunca falhava.
Por último vieram Darco e Rust, pai e filho, Weimaraners enormes (e bobos) liderados por Apache. Completando anos de história que seguem sendo contadas até os dias de hoje, quando nos reunimos em torno da mesa da minha vó e abrimos os álbuns de foto entre as xícaras de café.
Será que o amor por cães e gatos pode ser herdado? Talvez seja uma característica talhada no código genético, ou um simples comportamento adquirido. Fato é que quando vejo qualquer cachorro passeando no shopping, fico torcendo para o meu pai se aproximar para eu ter a desculpa de segui-lo (já que a cara de pau, infelizmente, não foi transmitida).
Pode ser que eu tenha chegado até aqui, como médica veterinária, escrevendo essa newsletter, porque me ensinaram que a conexão com os animais pode ser extraordinária.
Então, pai, dedico essa edição à você. Obrigada. Te amo. E feliz dia dos pais!
✉️A próxima pode ser sua
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Dica do Vet
Cães e gatos tem instinto paterno?
De forma geral, não. E isso tem tudo a ver com histórico evolutivo.
Os lobos tem uma estrutura social rígida e hierárquica, centrada em um macho e uma fêmea alfa. Enquanto a loba assume a responsabilidade de gestar os filhotes, que serão criados com a ajuda das outras lobas da alcateia, o papel do macho é focado em garantir a proteção e sobrevivência do grupo, sem envolvimento emocional ou hormonal com os filhotes.
Com gatos, que tem hábitos naturalmente solitários, o instinto paterno se torna ainda mais inexpressivo. E nos casos onde são formados colônias de gatos, o comportamento também se restringe em defesa de território e reprodução.
Mas não é sempre assim. Gorilas e pinguins, por exemplo, são conhecidos por terem participação ativa na criação dos filhotes graças à combinação de fatores evolutivos, sociais e, aqui sim, hormonais. Alguns estudos indicam que gorilas experimentam aumentos nos níveis de ocitocina, enquanto pinguins machos tem até liberação de prolactina.
Isso não significa que essas espécies são “mais pais” do que cães e gatos - aqui não tem espaço para julgamento. A natureza nos convida a tomar uma atitude que é bastante difícil para os seres humanos: observar. Sem se envolver nas complicações e interpretações criadas pela mente.
E pode ter certeza: ela sempre sabe o que faz.
Pet Letters Indica
Atletas caninos
As modalidades esportivas caninas não são tão comuns por aqui, mas na América do Norte e na Europa existe uma forte cultura de competições e treinamento de cães. São esportes sérios, regulamentados e que asseguram o bem-estar dos animais participantes.
Mas, Marina, você não acha que isso é exploração?
Não. Muito pelo contrário! Os cães se divertem pra valer praticando esses esportes, que são altamente estimulantes, tanto física quanto mentalmente. Quer mais? A atividade ainda fortalece o vínculo entre tutor e pet, já que exigem colaboração e comunicação constante entre os dois. Já vi cães pedindo para praticar o esporte, latindo e pulando de tanta empolgação. Igualzinho o seu cão quando sai pra passear.
Escolhi três vídeos curtinhos que vão te deixar de boca aberta. Clica nos links para descobrir como seriam as Olímpíadas Caninas:
Flyball: corrida de revezamento em equipe onde os cães saltam obstáculos, pegam uma bola e a trazem para o condutor. ⚾
Disc Dog: lançamentos em longa distância de frisbees. 🥏
Agility: percurso de obstáculos que inclui saltos, túneis e outras estruturas. ⭕
📽️Vídeo da edição
E esse esporte aqui, vale? Imagens que nos representam depois do almoço de dia dos pais. 😴
Até a próxima!
Pet Letters é a newsletter de histórias de amor entre tutores e pets, com dicas veterinárias e curiosidades do mundo animal.
Quinzenalmente, nas quartas-feiras às 9h.
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Escrita por Marina Cyrino Leonel
Médica veterinária que trocou os atendimentos pelas palavras
Neygmar - um dos seres mais icônicos que conheço. Por anos ouço falar no Apache. E só agora na Petletters fui apresentado ao animal. Adorei a edição 😃
Conseguiu de novo , com seu olhar cheio de amor ! Lindo demais 🥰🥰🥰 Parabéns , Marina Cyrino Leonel !
Ah, só registrando que ainda estou zonza com o último vídeo da lista “olimpíadas caninas “