Querido diário

Fisioterapia, cães vegetarianos e o meu primeiro livro

Um narrador diferente

A primeira informação que a Júnnia me deu para bolar essa edição é que sua cachorrinha tinha um diário. Desde então, não consegui pensar em outra coisa que não fosse escrever essa história na primeira pessoa. Espero que goste!

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História Real

Querido diário,

Acabei de voltar da sessão de fisioterapia. Foi legal. Você sabe que eu odeio seres humanos, mas sempre abro uma exceção para a minha fisioterapeuta. Amo as nossas sessões. Além do mais, sinto que estou evoluindo muito bem: até já recuperei alguns movimentos nas patas de trás. Lembrar do dia da cirurgia ainda me assusta.

Era Natal de 2023 quando eu parei de andar. Me levaram correndo para o hospital veterinário. Tiraram meu sangue, pediram um monte de exames e eu tive que fazer uma tal de ressonância. Parece que hérnia de disco é coisa comum de acontecer em salsichinhas. Mamãe disse que a cirurgia demorou umas oito horas. Ela ficou arrasada, coitada. Dedicou o mês de janeiro inteiro só para a minha recuperação, dá pra acreditar? Limpou a cicatriz, me ajudou a fazer exercícios e até a usar o banheiro. Ela é a melhor. Paciente que só. Joga a bolinha mil vezes por dia e ainda oferece pedaço de fruta e folha de alface sempre que pode. Ela nem me deu bronca quando destruí a horta! Lembra desse dia?

Na fisioterapia

Não foi minha culpa. A família que descuidou e deixou a porta do canteiro aberta, sem supervisão. Você sabe que eles vivem brincando que eu sou vegetariana. O que eu poderia fazer? Entrei, né? Tinha uns cinco ou seis pés de almeirão plantadinhos, tão verdinhos. A vovó entrou na horta quando eu arrancava o último pé. Ela bem que tentou rapar da minha boca, mas não deixei. Comi. Com terra e tudo. Se tive dor de barriga depois? É lógico que sim, mas não me arrependo nem um pouco. Será que é por isso que meu nome é Salsa? Mamãe disse que uma vez sonhou com uma cachorrinha chamada Salsa, e não tirou mais esse nome da cabeça. Talvez fosse um sinal de que uma companheira que gosta de verduras estava para chegar. E pensar que eu quase não fui a escolhida...

Por algum motivo eu não saí na foto da ninhada com os meus irmãos. Mamãe pediu para reservar um filhote todo pretinho, igual à dachshund que fez parte da família antes de mim. Mas quando chegou para buscar, só restava eu. Marronzinha da ponta do rabo branca. Ela bateu os olhos em mim e soube que era a Salsa dos seus sonhos. Acho que era para ser. Não acredito que haveria outra pessoa para cuidar melhor de mim. A mamãe tem muita esperança de que eu volte a andar, sabe? Eu também tenho. Mas não importa o que aconteça, sei que já tenho tudo o que preciso para ser feliz: a melhor tutora do mundo.

“Sou completamente apaixonada por ela. É um amor indescritível, de verdade. Eu já tive outros cachorrinhos, outras salsichas, mas nada comparado ao que eu sinto por ela. A Salsa é tudo pra mim” - Júnnia, a mãe

Dica do Vet

Conversa com um nutrólogo

Será que os pets podem mesmo ser vegetarianos? O que devemos fazer se eles recusarem a ração? O Paulo Argollo, além de médico-veterinário pós-graduado em nutrologia, é meu amigo da faculdade e topou responder essas três perguntas para a Pet Letters:

1. Cães e gatos podem ser vegetarianos?

Definitivamente, não! É só olhar a classificação etimológica dos cães e gatos: ambos são da Ordem dos carnívoros, parentes dos lobos e dos grandes felinos, respectivamente. São anatomicamente carnívoros, e acabaram adquirindo um comportamento alimentar onívoro com a domesticação. Para essas espécies, não pode haver exclusão de proteína de origem animal e nem de certos aminoácidos essenciais. Uma dieta vegetariana implicaria em um estado de carência nutricional, desnutrição e mal funcionamento do organismo a médio-longo prazo. O pai de pet com posse responsável tem o dever de alimentá-lo de acordo com suas necessidades específicas, e não em função de suas projeções humanas.

2. O que eu devo fazer se meu pet não gostar da ração?

Primeiro, é importante investigar com o médico-veterinário se existem sinais clínicos que possam estar associados à falta de apetite do cão ou gato. Excluindo essa possibilidade, saiba que não é incomum situações em que os pets recusam a ração sem motivo aparente. Em muitos casos, a retirada de petiscos e snacks fazem o apetite voltar ao normal.

Você também pode pedir para o veterinário indicar uma ração mais apropriada e, assim, realizar uma transição gradual do alimento atual para o novo, que deve durar em torno de sete dias. É muito importante não realizar a troca do tipo/marca de ração aleatoriamente. Sempre que seu pet recusa alimento e você troca a ração de imediato, o jogo vira e ele te “adestra”. O pet percebe que é só se recusar a comer que um novo cardápio surgirá em breve. É o famoso reforço-positivo.

3. Pode deixar alguma dica de nutrição para os tutores?

Você, como tutor, tem um papel fundamental no controle de peso do seu pet. Afinal, é você que compra e oferece o alimento, os petiscos e a quantidade no dia a dia. Cães e gatos obesos são pets doentes, já que a obesidade contempla as três principais características necessárias para ser considerada como tal: causa sinais clínicos e sintomas, prejuízo no organismo, e morbidade.

Uma dica é ficar atento à condição corporal, como a ausência de cintura, por exemplo - isso é mais relevante do que um número na balança. A avaliação completa do escore de condição corporal pode ser realizada pelo médico-veterinário, que determina quando vale a pena entrar com uma dieta para emagrecimento.

Vale lembrar que petiscos e snacks não são alimentos completos para cães e gatos e não devem ser oferecidos em excesso. Para cães e gatos saudáveis, gosto de indicar alimentos que tenham maior teor de proteína e/ou fibras do que carboidratos: ovos, proteína animal desidratada e, para os fãs de frutas e vegetais como a Salsa, chuchu, tomate sem semente, palitinhos de cenoura e pepino, maçã, amora e mirtilos são ótimas opções. Cuidado com as frutas mais calóricas, como banana e manga, por exemplo. Fique atento às recomendações de ingestão calórica diária do cão ou gato e não ultrapasse esses valores.

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Pet Letters Indica

Meu livro infantil :)

Agora é real oficial: “Clay: que forma você quer ser quando crescer?” está disponível para pré-venda com preço promocional na Amazon! Uhul!

O meu primeiro livro nasceu da minha transição de carreira de médica-veterinária para escritora. É um livro sobre a importância de experimentar, errar, se reinventar e, principalmente, sobre a coragem de abraçar quem você realmente é.

Clica aqui para conhecer a sinopse. E se quiser conhecer os desafios que enfrentei como autora estreante, estou compartilhando todo o processo desde a criação até a publicação do livro na minha segunda newsletter, a Marinando. Na última edição, além de compartilhar uma conversa muito legal que tive com o meu esposo, contei do dia em que quaaaase cai na conversa de uma editora picareta! 🤡

E se meu livro decepcionar todo mundo?

📽️Vídeo da edição

• A reação dessa tutora ao ver seu cão voltar a andar depois da sessão de fisioterapia é a dose de esperança perfeita para finalizar essa edição. ♥️

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Até a próxima!

Pet Letters é a newsletter de histórias de amor entre tutores e pets, dicas veterinárias e curiosidades do mundo animal.

Quinzenalmente, nas quartas-feiras às 9h.

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Escrita por Marina Cyrino Leonel
Médica veterinária que trocou os atendimentos pelas palavras