Sobre vizinhos
Sei de condomínios em São Paulo onde todo mundo é amigo. Rolam churrascos, aula de hidroginástica na piscina e até transmissão do brasileirão no salão de festas. Não tenho a sorte de morar em um desses lugares. Estou há um tempão no mesmo prédio e mal conheço os meus vizinhos. A Kelly, protagonista dessa edição, também não conhecia. Até sua cachorra ficar famosa.
História Real
Portas abertas
Será que alguém é capaz de me explicar os fundamentos básicos para fazer amizade com os vizinhos? No grupo do WhatsApp só circulam avisos de férias dos porteiros e atualizações do portão elétrico que deu pane depois da tempestade. No elevador, quando muito, surge uma ou outra amenidade sobre o clima.
Quais vidas existem atrás das portas sempre fechadas? Devo bater aqui do lado e pedir uma xícara de farinha para descobrir? Cozinhar nem é meu ponto forte. Seria melhor ir até a padaria e oferecer alguma coisa pronta. Talvez funcione. Foi mais ou menos isso que a Kelly fez para conquistar a amizade dos vizinhos. Mas ao invés do bolo de fubá, ela levou sua cachorra desmaiada, acompanhada de uma xícara de pânico recém passada.
Isso aconteceu um mês depois que Kelly e seu marido, Phillip, adotaram Luna. Ela foi a primeira de muitos cães que conheceram através do programa de adoção da Petz. Naquele dia, visitaram umas cinco lojas diferentes, mas Luna já estava marcada em suas cabeças. Três meses, oito quilos e dois olhos castanhos que haviam roubado seus corações.
Luna é brincalhona, simpática e extrovertida. Passeia pelo bairro e interage com todo mundo que encontra pelo caminho. Adora o Ibirapuera, bolinhas, cabo de guerra, ossinhos de brinquedo e, é claro, cenouras. Era isso que estava fazendo no fatídico dia dessa história: roendo uma cenoura.
Era um domingo à noite. Phillip havia saído de carro e Kelly estava tranquila no apartamento, preparando uma sopa. Picou os legumes e deu uma espiada em Luna, feliz, brincando no quintal do apartamento térreo. Levou metade da cenoura para a cachorra, fechou a panela de pressão e só então percebeu que Luna estava mancando.
Kelly deixou o fogão e franziu o cenho ao encontrar uma abelha morta ao lado da cachorra. Pediu que Luna entrasse no apartamento na mesma hora - precisava manter a calma, examinar a patinha da cachorra e pensar no que fazer. Mas, mesmo mancando, Luna ignorou a dona e fez questão de terminar de roer sua cenoura (prioridades, né Luna). Assim que engoliu o último pedaço, começou a escorregar vagarosamente as quatro patas até estatelar a barriga - e o autocontrole de Kelly - no chão. E lá ficou. Muda, imóvel, de olhos arregalados.
“Choque anafilático”. Foi a última coisa que passou pela cabeça da Kelly antes de voar pelo corredor do prédio, gritando e tocando todas as campainhas que via pela frente. Até que as portas, aquelas madeiras impenetráveis, foram destrancadas. Rostos desconhecidos se revelaram pelas brechas. Vizinhos assustados, confusos e prontos para ajudar.
Kelly foi imediatamente socorrida por dois casais. Glaucio, de um deles, nem pensou duas vezes antes de abrir mão da tranquilidade do domingo à noite. Pegou Luna nos braços e correu com as duas para o carro. Kelly disparou para dentro do hospital veterinário, largando documentos, celular e chaves com o recém conhecido vizinho.
Não foi choque anafilático. A veterinária explicou que a dor fora tão intensa que Luna havia simplesmente “paralisado”. A cachorra foi cuidada, medicada e teve o ferrão finalmente retirado da patinha. Foi liberada para voltar para casa no mesmo dia. Mas sua casa já não era mais a mesma.
A notícia se espalhou pelo prédio e Luna ficou famosa da noite para o dia. Kelly e Phillip começaram a receber mensagens. Mais portas foram abertas e rostos ganharam nomes. Glaucio, Fernanda, Mayara, Victor e vários outros querendo dar muito, muito carinho para Luna (que até ganhou presente do James, o Maine Coon do andar de cima, com cartinha escrita à mão).
Imagina se o cara mal encarado do quarto andar é o o primeiro a me ajudar diante de um problema? As situações difíceis tem dessas. Elas podem ser dolorosas, mas também despertam o que tem de mais bonito em nós. Eu só realmente espero que exista um jeito mais fácil de conhecer os meus vizinhos. Talvez eu encaminhe o link dessa edição no grupo do prédio, assim, como quem não quer nada, logo embaixo do último comunicado da Enel.
Adorei escrever a sua história, Luna. Mas pelo amor de Deus, se um dia você mudar de casa, deixa sua mãe só assar um bolo, vai.
Sempre fomos fãs de cachorros, e conviver com a Luna com certeza deixa nossos dias muito mais alegres. Em meio a plantas desfolhadas que tiveram que ser retiradas do chão do quintal, e incontáveis objetos mastigados (dentre eles um interruptor, um balde, e até mesmo a parede texturizada do quintal), ganhamos também um amor infinito. O nosso lar e a nossa vida são muito mais completos com a Luna (e com a Sophia, nossa filha que nasceu no fim de 2023)!
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Dica do Vet
5 coisas que você precisa saber para seu pet viver mais
“O que você gostaria de perguntar para um veterinário”? Abri essa caixinha de pergunta no Instagram e escolhi uma das dúvidas para responder na seção de hoje. A mariana_cyrino (o nome não nega o parentesco 😁), mandou a boa:
Como aumentar a longevidade dos pets? Suplementação? Fisioterapia? Quanto de exercício físico?
Eu tenho certeza que você é um tutor nota dez e já tem o hábito de agendar consultas de rotina com seu médico veterinário (néeee?), então tentei sair do óbvio e separei cinco coisas que você precisa saber para que seu pet tenha mais chances de viver uma vida longa, saudável e feliz. A última é a minha preferida:
Escovar os dentes diariamente salva vidas. Esse hábito simples e super subestimado pelos tutores previne que doenças dentárias progridam e levem bactérias para órgãos importantes, como o coração. E tem mesmo que escovar todo dia? Tem. Mas vou te dar uma colher de chá: no mínimo a cada 48 horas. 🦷
Suplementação não é obrigatória para todo mundo. Depende da raça, idade, problemas de saúde e do tipo de alimentação (natural ou ração). Uma suplementação inadequada pode, inclusive, prejudicar o balanço perfeito da ração de qualidade que o pobre do zootecnista passou meses calculando. Por mais que seja um simples ômega 3, é importante que seja recomendado pelo médico veterinário. 💊
Antes da fisioterapia, foque nesses cuidados: utilize escadas ou rampas para impedir o cão de pular no sofá e na cama, eleve o comedouro até a altura do peito, espalhe tapetes, passadeiras e até mesmo placas de borracha para evitar o contato do pet com o piso liso e dê preferência para o peitoral ao invés da coleira nos momentos de passeio. 🛋️
Exercícios físicos e mentais precisam ser diários. No geral, todo cão saudável pode se beneficiar de passeios diários, de intensidade baixa a moderada, com duração média de 30 minutos; e de brinquedos sempre disponíveis. Para os gatos, é importante que as necessidades de perseguir, caçar, morder, explorar e marcar o território com seus cheiros e arranhões estejam atendidas. Não esqueça de rotacionar os brinquedos - escolha três por vez, deixe os demais fora de circulação e vá trocando-os a cada semana. 🥎
Fique de olho nos avanços da ciência. A empresa de biotecnologia Loyal está na fase fina dos testes para uma medicação que modula fatores de crescimento relacionados ao envelhecimento e aumenta a expectativa de vida dos cães. Já para os felinos, as pesquisas sobre longevidade estão avançando principalmente na direção de uma proteína capaz de limpar detritos que se acumulam nos rins - o sonho de todo tutor de gato. 🔬
Pet Letters Indica
4 vídeos de Halloween
Oi, Deus, peço perdão em nome de todos os humanos que fazem os animais de bobo em prol dos melhores vídeos da internet. Hoje a edição termina não com um, mas com quatro vídeos - em clima de Halloween - pra contribuir com as suas microdoses de dopamina diárias:
Se fantasmas não existem, explique isso. 👻
Eu sou a vingança. Eu sou a noite. Eu sou Batcat. 🦇
Spoilers inéditos da segunda temporada de Wandinha. ✋🏻
Explicado porque a tradução de passarela é catwalk. 🧛🏻♀️
Talvez você não tenha visto..
Mês passado fiz uma edição todinha dedicada aos gatos pretos. É surreal pensar que ainda existe preconceito com relação a esses animais, mas a boa notícia é que podemos fazer a nossa parte e escolher focar no lado bom da história, exatamente como a Minerva nos ensinou. Clica para conhecê-la. 🖤
💌Insira-aqui-um-nome-de-grupo-muito-legal
Eu e minhas amigas escritoras estamos organizando um grupo de autoras de newsletters (achei chique). A fase é de ideação e ainda nem batizamos o coletivo, mas adianto que muitas coisas bacanas estão por vir.
A partir de agora, minhas newsletters vêm com a indicação da última edição dessas escritoras super talentosas:
A Gabi fez um resumão de tudo o que aconteceu na Flip, a famosa Festa Literária de Paraty na Gabrielle Albuquerque @agabiescreve.
A Cynthia também continua na vibe de dia das crianças e fez review de animações na Cyne News.
O que arroz com ovo te lembra? A Andrea fez uma crônica sobre a única comida que aceitava quando era criança na Andrea me conta.
❤️Ainda sobre newsletters, você já conhece minha outra casa aqui no Substack? Marinando é meu espaço de crônicas e contos sobre a beleza do cotidiano. Passa lá pra conferir.
Até a próxima!
Pet Letters é a newsletter de histórias de amor entre tutores e pets, com dicas veterinárias e curiosidades do mundo animal.
Quinzenalmente, nas quartas-feiras às 9h.
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Escrita por Marina Cyrino Leonel
Médica veterinária que trocou os atendimentos pelas palavras
Sobre vizinhos, eu só tô no grupo do meu prédio pela fofoca haha, ainda não sei como me enturmar aqui hahahah.
Amei a edição, acho que a Luna só queria dar um sustinho e fazer com que todos a conhecessem... só escolheu uma forma meio tensa haha.
E eu amooo esse video do Batcat hahaha
Amei a a história da Luna, e amei as dicas, já vou colocar em prática ♥️